Agosto, 2025

Por que eu codo as coisas?


misc 🗂️

Originalmente publicado no Substack em Julho de 2025.

I.

Você já se pegou pensando no motivo de fazer isso ou aquilo... alguma coisa que você faz sem pensar no motivo enquanto faz?

Eu nunca estudei programação, mas sempre fui fascinado por criação de coisas na internet, acho que desde sempre. Lembro que em 2000 e alguma coisa eu já blogava, ou melhor flogava (quem se lembra do Flogão?). Mas foi em 2006 com o Blogspot que tudo mudou, pois você não apenas tinha o seu blog, como podia deixar ele do jeito que quisesse.

Alterar cores, reorganizar os elementos, a parada era o Neocities versão BR. E falo mais, essa época não era só incrível pelas pessoas genuinamente escreverem e lerem coisas—não se fazia grana com conteúdo em blog, não havia ânsia de views, a monetização das coisas ainda era mato para os meros mortais. Você criava suas coisas, visitava outras páginas, interagia com interesse real e criava essas conexões de interações, de novo, com interesse real—, mas pelo fato de existir uma identidade digital delas. O seu site, era sua cara! As pessoas visitavam e navegavam por algo que você manipulava e organizava como queria. Com as redes sociais, isso FOI PRA VALA. Nós trocamos a alteridade, pela uniformidade e saturação.

Mas o lance é. Desde o blog, eu sempre tive um apego por código, principalmente HTML e CSS. E ao longo dos anos, tive váaaaaarios sites e portfolios que nunca me agradaram. Até que resolvi criar meu site, que hoje funciona como meu jardim digital. Apesar de eu amar ele e não depender de uma empresa terceira para existir (eu posso hospedar meu site em um servidor local, mas hoje uso Github (y)), ainda prefiro, primeiro, publicar no blogspot. Não sei, eu tenho um lance, uma coisa, com esse site véio, sabe… Hoje eu uso principalmente o blogspot, enquanto o resto fica meio que como espaço de backup e experiências.

Em paralelo, com o tempo, eu me vi explorando outras coisas além de codar só meu site. Anos atrás, por exemplo, eu fiz o escreveapaga, que é um bloco de notas que você acessa, escreve, baixa seu textinho e também ele deixa salvo no navegador (era preguiça de abrir o Word ou bloco do Windows). Hoje, ele está hospedado no Github.

Recentemente também criei um projeto artístico chamado DQAD, até já falei dele. É uma aplicação web em HTML, CSS e Javascript que me permite mixar imagens com a ideia de destruir e criar algo novo. Acabou que fui pirando e quando me dei conta, já tinha criado um site para exibir o trabalho e deixei lá a “ferramenta de mixagem” disponível pra quem quiser subir e mixar suas próprias imagens.

Disponível em:https://dqad.vercel.app/

E, ainda mais recente (e não tanto), eu fiz duas ferramentas para o Letterboxd, ou melhor, duas extensões para o navegador.

E foi construindo a segunda que eu comecei a pensar sobre isso: por que eu faço isso? Talvez seja resolver problemas, isso é algo muito de mim, como designer. Ou talvez seja fogo no rabo. Já perdi a conta de quantas coisas eu pensei e quis resolver com coisas na web, e não consegui por não ter skills, quem sabe eu devesse por mais seriedade e dedicação no código? Não sei.

Eu sei que codar essas coisas inúteis e aleatórias meio que são uma terapia. Eu consigo me desligar de várias tretas da vida e focar em outra coisa. Sabe como é?

Ah! Sobre as extensões, uma é um randomizador para a Watchlist, perfeita pra quem não sabe o que escolher da Watchlist. E o outro é uma tool pra exportar seu log, reviews e críticas do seu perfil MUBI para o Letterboxd.

Talvez codar seja um hiperfoco. Como quando eu pego coisas aleatórias para traduzir, mesmo que sejam publicações em sites quase esquecidos que você possa traduzir com o botão direito do mouse. Seja como for, ooooh boy! eu me amarro.


II.

Assisti Superman ontem, do James Gunn lançado semana passada, e devo admitir que há tempos eu não me divertia com um filme de super-herói. E foi uma experiência interessante além do filme, já fazia algum tempo que eu não ia ao cinema e a cada retorno fica mais forte a sensação de que aquele é um dos raros lugares em que eu consigo me desligar de tudo. Acho que quando falamos “cinema”, é isso que essa palavra representa pra mim, uma caixa escura gigantesca com uma tela também gigantesca.

Talvez até represente a indústria de grande escala do cinema, mas definitivamente não representa o que está na tela: o filme. Enquanto a nossa relação com o filme se limita ao que Hollywood e os cinemas nacionais entregam através de alguns canais aberto e streamings, é um pouco mais difícil compreender isso. Mas quando você começa a explorar outros “tipos de filmes”, como experimental, slow cinema, o próprio TikTok com seus filmes de 90 segundos, cinema se torna uma palavra pra designar filmes gourmet, produções multimilionárias… e felizmente, você percebe que a qualidade de um filme está muito além da imagem 4K.

Essa chave virou pra mim há algum tempo. Talvez tenha sido nesse momento em que entendi também que qualquer pessoa pode fazer um filme (sim, você também), e pode colocar esse filme no mundo e ser visto. Você pode pensar que isso é algo óbvio, mas desconstruir a ideia de que para fazer um filme você precisa de um bom roteiro, câmera, cinematógrafo, iluminação, gravador de áudio… é muito mais difícil. Isso definitivamente está ligado ao fato de que nós somos bombardeados por informações de um modelo de produção que joga para a margem tudo aquilo que não é mainstream, inclusive nós mesmos.

Não. Um filme não precisa de estrelas, câmeras IMAX ou James Gunn. A câmera do seu celular e a curiosidade para apontar para algo e gravar, e então compartilhar em qualquer lugar. Isso é suficiente.

IV.

Algumas coisas que quero compartilhar:

Até logo,

xoxo